quarta-feira, 25 de abril de 2018

Páginas em branco




Poderia escrever-te versos, construir estrofes de pássaros voejantes…  talvez um poema cheio de mim e com o meu coração rimado com o teu em cada verso, mas a realidade emudeceu o horizonte das palavras ainda entorpecidas. As janelas estão quase fechadas. O Sol velou-se na obscuridade das poesias desconexas e eu já não sei ausentar-me da página em que fiquei inanimada, sem luz, sem saber como voar.
A melodia já não toca na partitura meiga das brisas e os sonhos afundaram-se no vazio da procela orquestrada pela dança imprudente de um arcaico momento.
Poderia escrever-te, mesmo que as tormentas tenham desfolhado as flores apodrecidas de uma memoração revitalizada. Sento-me no banco do rodapé e confio. Se eu pudesse escrever o meu amor por ti, encheria de beijos as páginas em branco do livro que já nem ousas folhear. Gostaria tanto de soltar o barco encalhado da tua alma à deriva neste mar alvoraçado de dubiedades. Talvez o vento extinga as brumas do teu Sentir. Talvez me leves de novo nas tuas asas que querem reaprender a voar na reciprocidade do olhar e no mesmo firmamento.

Fanny Costa

5 comentários:

  1. Continuas a escrever muito bem com alma e sentimento.
    Uma prosa poética muito bela e que gostei de ler.
    Bom feriado e continuação de uma semana muito feliz.
    Beijinhos
    :)

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    Respostas
    1. Querida Piedade, tu também escreves muito bem e as tuas fotos são poemas desenhados no nosso olhar.
      Beijinho*
      Fanny Costa

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  2. Muito grata, Piedade! Já visitei de novo o teu blogue e continua um encanto. Já nem falo das fotos que também são poemas deslumbrantes! Beijinhos e bom fim de semana.

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  3. A escrita é um exorcismo, uma forma de factualizar o sonho, de assustar o escuro e esperar que tudo aquilo que dizemos às palavras seja uma espécie de frase mágica que faça acontecer. Comigo acontece-me dizer por escrito e sentir na pele o arrepio... Magnifico como sempre que sentes com as letras.

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