segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Desassossego

 


Há vazios que se chegam a nós… abraçam-nos insensíveis, oferecem-nos pétalas murchas oriundas de jardins esquecidos, abandonados… fica no ar um perfume melancólico de passado, memórias sombrias que escondem o sol da alma…

Por muito que se cerrem as janelas do coração, o vendaval de lembranças invade a quietude do sentir… revira o baú da alma, defuma no horizonte incensos lânguidos… plangentes… disseminam ventos gélidos onde já havia mansidão… placidez interior…

Hoje eu queria caminhar, voar pela imensidão dos sonhos que começavam a florir, hoje eu ainda queria acreditar nos sorrisos de liberdade e primavera… mas as portas do horizonte permanecem obstruídas e os meus passos continuam inertes na perplexidade amargurada do coração.

Fanny Costa

8 comentários:

  1. Essa melodia do BrunuhVille, o nosso brilhante portuguesinho de Coimbra, é de facto inspiradora. Ao juntar-se ao lirismo da tua prosa, Fanny, temos um encontro de sonhos, que nos envolve e extasia intensamente os sentidos. Assim, digo:


    ouse o coração desafiar o penhor da amargura
    quando avançar languidamente sobre as primaveras
    onde outros sonhos em mansidão e límpida frescura
    emanam aromas suplicantes de esquecidas quimeras

    ouse o coração desafiar a ventania e a sentença
    e colher malmequeres na floração dos horizontes
    escolha então a memória a pétala de uma nova avença
    e deixe-se a alma inundar na poesia silente das fontes

    ouse o coração recriar os encantos de uma antiga fábula
    ao abrir suas janelas ao infinito ensolarado da imaginação
    afastar a perplexidade e a inquietude de sombrias máculas
    e entregar-se à certeza remissora de uma nova peregrinação

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    1. Gratidão, José Carlos! Ontem lembrei-me de ouvir o nosso portuguesinho que encanta o mundo com o seu lindo trabalho. Tenho um carinho especial por esta melodia.

      Quanto ao teu comentário...
      Que lindo, um poema - oração! Que assim seja! Que o coração caminhe por primaveras, na mansidão de outros sonhos esquecendo a ilusão. Que o coração colha flores perfumadas de poesia num horizonte amplo, livre... sem portas. Que o coração abra as janelas da vida e o Sol entre, emane alegria, afaste a perplexidade do Sentir e ilumine os caminhos do Puro Amor.

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  2. Não tenhas receio de voar, livre e firme, na imensidão do prado dos sonhos, onde não há portas nem comportas que possam impedir a tua liberdade de afluir ao jardim dos sorrisos primaveris, onde poderás colher flores de esperança e de confiança.

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    1. Gratidão, JC, pelo carinho das tuas palavras vestidas de sorrisos primaveris e flores de esperança. Que assim seja!

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  3. Fanny,

    O tempo que foi novo entardeceu e uma nuvem de espanto regressou com pétalas de medo.
    Nas mais largas alamedas pequenos focos de trevas contagiaram a noite. E tudo escureceu!
    Mas há-de nascer um sol com um novo lume, que dissipe as trevas e volte a colocar o sorriso nos nossos lábios!

    Um beijo para ti, e cuida-te!

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    1. Muito grata pela visita, Albino.
      Nuvens de espanto, que não me espantam... As pétalas de medo, talvez sejam agora pétalas de coragem. E a noite dá sempre lugar ao sol, mesmo que este se esconda por detrás das neblinas existenciais.
      Há sempre uma luz que quer despontar nas trevas de um sentir.
      Beijinho

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Grata pela sua leitura e o carinho da sua visita.
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