Tocam
as mesmas músicas no coração... aquelas que nos abraçam e nos levam para o
aconchego da memória... Descortino perfumes de rosas na obscuridade da solidão,
os meus olhos enevoados redescobrem o azul submerso no marasmo do sonho que
quer findar...
Não!
Não quero enclaustrar as portas do sonho, o cansaço não vencerá o regozijo de
outrora!
Há
sorrisos meus que eu esqueci nos atalhos dos crepúsculos, reflexos lunares que
tu acarinhas... há gotas da minha alma a escorrer nas pétalas macias dos teus
segredos... há um destino que os meus dedos ainda anseiam escrever com as cores
eternas do arco-íris...
Os laços invisíveis ligam o meu corpo ao abismo da
Razão... mas eles também enlaçam a minha alma à tua, como se tu fosses um
pedaço do meu ser, elo mágico que me ata à essência da vida.
A
música continua a tocar neste meu resguardo de silêncio, há notas sibilantes do
teu murmurar... palavras tuas fragmentadas, sílabas desencontradas num puzzle
que ainda teimo em compor... Procuro resgatar o fulgor das estrelas que me
dedicaste, tento abrilhantar as rimas amarguradas do poema longínquo, versos
soltos de mim... de ti... desamparados.
Queria tanto explicar-te a languidez dos sentidos, estes que agora não conheço, mas
que me lançam na vertigem alucinante das sensações...
Pudesses tu devolver-me a
aurora que eu deixei escapar pelos meandros do meu caminhar... Pudesses tu
dar-me a tua mão e, juntos, desenharmos uma pomba branca no coração do
pensamento.
Autoria: Fanny Costa