A floresta era um livro ancestral
e sábio que se estendia pela montanha das palavras. Desenhavam-se
arbustos elegantes no chão, bailados de flores, metáforas de amor que enlevavam
o horizonte. Ouvia-se o murmúrio das brisas aprazíveis, as trovas dos
pássaros que eram versos embelezados de sol. Os raios das árvores embalavam a
alma daquela mulher que sorria por aqueles trilhos encantados misteriosos,
que corria alegremente nos parágrafos do amor...
Mas os seus passos estagnaram na
página onde as brumas subitamente se adensaram... Os seus olhos mansos de
mar já não conseguiam passear nas palavras melódicas do seu coração.
Eram agora letras deformadas, embaçadas, sem sentido... Fechou delicadamente
os olhos, já não sabia ler, interpretar. Soltou os seus longos cabelos
tristes que baloiçavam naquela aragem húmida e fresca. Ousou mover-se nas
reticências daquelas linhas desordenadas, mesmo sem saber por onde ia...
Galgou os pontos de interrogação, de exclamação e foi...
E daquele livro, as páginas não
voltaram a ser folheadas, uma história incompleta, uma narrativa em
aberto, uma página turva e indefinida. As aves nunca mais beberam o
sol, nunca mais cantaram nas rimas daquelas árvores.
Fanny Costa
17 comentários:
Há sempre um tempo para o livro da vida ser reaberto e folhear páginas de esperança e de alegria e, finalmente, esperar que a noite longa e fria se curve perante a força da luz e do calor do dia.
Sim, sempre há tempo de folhear novas páginas com a clareza do coração e a inspiração do Amor.
Muito grata pela visita.
Beijinhos
Um belo texto, eivado de romantismo que subitamente se cala, vítima talvez de uma grande deceção, mas há sempre um amanhã, pelo qual devemos esperar, para de novo folhear o livro da vida!
Muito obrigada pela tua visita e gentil comentário!
Beijinhos.
Bom dia. Muito bom. Adorei o texto :))
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O presente e um futuro...num passado
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Beijos, e um excelente fim de semana.
Fanny, Ler-te será sempre um doce fascínio!
Este texto é maravilhoso...!!!
Um beijo e um bom fim de semana!
Olá!
Sim.
Florbela Espanca, a grande poetisa alentejana!
Sou amiga dum primo dela, que foi meu colega, nas Escolas.
Saudações poéticas!
Há páginas no livro da vida, que preferimos não voltar à abrir.
Palavras de uma profunda sensibilidade e que cativaram o meu coração.
Bom fim de semana
Beijinhos
Cheias de beleza, as palavras deste texto. Uma história triste. Como triste é o mundo em que vivemos.
Uma boa semana com muita saúde.
Um beijo.
Fanny
Esta prosa poética é triste,embora escrita com muita sensibilidade.
A vida é um livro.
Há paginas que nao abrimos.
Outras que se mantem em branco.
É a vida!
boa semana.
beijinhos
:)
Muito grata, pela visita. De facto este texto revela uma decepção de alma...
Um abraço de luz
Querida, Cidália. Muito obrigada pela sua visita.
Um beijinho
Obrigada, Albino. É um prazer receber-te no meu cantinho.
Um beijinho
Olá, Vieira Calado. Gosto muito de Florbela Espanca. Creio que a minha alma melancólica e até os poemas que já escrevi em tempos têm sentimentos semelhantes.
Saudações poéticas
Querida Maria. Muito grata pelo carinho das suas palavras.
Beijinhos
Querida Graça, sim...um texto triste, uma história cujo final é uma incógnita...
Um beijinho
Querida Piedade, mais do que as palavras tristes das páginas do livro, são as páginas em branco, em que as palavras não são escritas. Há barreiras invisíveis, há silêncios que falam...
Beijinhos
Há página que ficarão para sempre em branco. E, por vezes, nem saberemos qual a razão porque não tiveram direito a serem preenchidas.
A vida é isso mesmo... tem interrogações e não lhes dá respostas.
Adorei o teu texto. Tem uma sensibilidade que domina a alma.
Obrigada.
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