quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Páginas Soltas




Abrem-se as portas do horizonte, há um livro longínquo, encantado cheio de poesia. Continuas imóvel. Há uma (in)quietude desconfortável! Onde estão as tuas asas que te levavam para outros mundos e te extasiavam com cânticos doces de algodão? Queres folhear o livro da tua alma, mas está tão distante. Inventas as palavras que enchem aquelas páginas, sonhas percorrer todas as linhas da tua história, procuras incessantemente o teu amor…mas há um muro invisível que te impede de voar… Há lágrimas obstinadas que se soltam dos teus olhos cansados e escoam no rio das tuas lembranças dolentes.

Permaneces (in)quieta junto à janela do teu coração… há páginas que o vento da Razão desfolhou e as trouxe para junto de ti. Sorris… mas há murmúrios de um som amado que se aparta transportado pelas nuvens astuciosas da Ilusão. Há um silêncio amargo que jaz na tua voz, há palavras refreadas, cheias de dor, desencantadas, ancoradas no marulho do Tempo. Há recatos que devastam as flores de um jardim etéreo que ainda florescia no outono. Há melopeias interrompidas pelos sons do esquecimento. Há sorrisos (des)iludidos, há olhos que se fecham… querem adormecer para SONHAR.

Fanny Costa

14 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

Fascinante poesia em movimento e prosa.
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Deixando um abraço

Cidália Ferreira disse...

Um texto em prosa simplesmente brilhante!! Amei :)
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Baloiço do tempo...
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Beijos e um excelente dia!

Maria Rodrigues disse...

Fico sempre encantada com a delicadeza e sensibilidade das suas palavras.
Através da sua prosa poética, eu saio sempre daqui com a alma mais leve.
Obrigado por estes maravilhosos momentos.
Beijinhos

Jaime Portela disse...

Prosa poética do mais fino quilate.
Parabéns pelo talento.
Continuação de boa semana.
Abraço.

A.S. disse...

Sublime!
Muitas vezes abrem-se as portas do horizonte mas, diante de nós, há uma fronteira invisível que nos impede a passagem, para que possamos desfrutar toda a magnitude deslumbrante de um horizonte que tanto nos fascina!
Que fazer? Desistir nunca! Antes, procurar sempre aquela porta que se abre livre! Sem fronteiras invisíveis que destroçam os nossos sonhos!

Gostei muito Fanny. A tua prosa é de fino recorte poético!
Votos de um bom fim de semana para ti.
Um grande abraço!

José Carlos Lopes disse...

Tens o dom de descobrir exuberantes melodias e polissémicas imagens e delas extrair sentidos maravilhosos, que delicadamente pincelas com as exatas palavras a sugerirem movimento, cor e perfume.

Permite-me agora o atrevimento de perceber alguma afinidade, talvez simetria, entre as tuas "Páginas soltas" e algo que escrevi há alguns anos, a que chamei "Linhas do tempo":

e se a força grandiosa do horizonte
revolvesse as linhas do tempo
e resgatasse em translúcidas fontes
as lágrimas tantas deste momento

e mitigasse essa mágica torrente
tantas sedes de contidas ternuras
e recriasse o instante presente
num devir de encanto e brandura

fosse o canto do poeta bastião
dos pleitos e sonhares do coração
na simplicidade lógica de um amor

e a luz suprema, esteio de um clamor
a ecoar na alma em serenidade
o último grito de uma crueldade

Graça Pires disse...

Para ultrapassar os muros invisíveis só ganhando asas se consegue porque a liberdade do voo existe dentro de nós. Bom texto poético.
Uma boa semana com muita saúde.
Um beijo.

© Fanny Costa disse...

Obrigada, Ryc@rdo! Fiquei muito feliz com o seu agradável comentário.
Uma boa semana, apesar do mau tempo.
Um abraço de luz e paz

© Fanny Costa disse...

Obrigada, querida Cidália.
Sentir o carinho da sua presença, deixou-me muito feliz.
Beijinhos e uma boa semana

© Fanny Costa disse...

Muito grata, querida Maria! Assim me sinto, quando escrevo um texto, leve e solta. Bom saber que passo estas sensações para quem me lê.
Beijinhos e uma boa semana.

© Fanny Costa disse...

Muito grata, caro poeta. Fico muito honrada com o incentivo das suas palavras.
Uma boa semana de luz e paz.
Um abraço

© Fanny Costa disse...

Muito grata, Albino! Realmente quando as barreiras se afiguram no nosso caminho, há que ser paciente, resiliente e inteligente para desobstruir esses muros invisíveis. Apesar de tudo há murmúrios que ainda se escutam no silêncio do coração...há que saber ouvir e interpretar.
Uma boa semana cheia de luz e paz.
Um abraço

© Fanny Costa disse...

Muito grata, José Carlos! Curiosamente foi este compositor, Jean-Marc Staehle, que inspirou a abertura deste blogue. Há músicas verdadeiramente inspiradoras que nos sussurram palavras e se tornam poemas, prosas poéticas.
Gostei muito do teu poema "Linhas do Tempo"... Obrigada pela partilha, neste meu espaço.

© Fanny Costa disse...

Muito grata, querida Graça !
É bem verdade, temos um grande poder dentro de nós, mas receamos a liberdade do voo ou a falta de outra asa...
Um beijinho e uma boa semana de luz e paz.