segunda-feira, 23 de abril de 2018

Casa da Floresta





Que casa é esta que guarda segredos da floresta? Quem mora neste recanto verdejante cheio de mistério? Há nele graciosidade, puro encantamento!  Quem por ele passa sente uma brisa confortante. Há formosura nas janelas pintadas de alegria, sorrisos nas flores que se espreguiçam nas mágicas auroras. Há enigmas escondidos nestas veredas viçosas. Poucas são as almas que a casa albergou, muitos caminhantes nela ousaram entrar, mas a porta era feita de Sol e a sua luminosidade ofuscava os olhares indiscretos.

Ao anoitecer, a casa vestia um cobertor de brumas brancas, excelsa candura que só alguns Seres conseguiam vislumbrar. A Lua abria a porta e as janelas permaneciam descerradas deixando somente entrar os poetas com o coração cheio de estrelas e de sonhos. Eram as fadas da floresta que moravam naquele lugar fascinante. Os Sentidos da Alma emanavam pela casa e as fadas deleitadas murmuravam versos de amor aos magos das palavras. Germinavam poemas nas melodias entoadas pelos violinos daqueles Seres deslumbrantes e o cântico das estrofes na voz dos rouxinóis esvoaçavam naquela floresta maravilhada e harmoniosa.

Quando amanhecia, a porta de Sol continuava cerrada e não se via ninguém naquele lugar misterioso, ouvia-se o silêncio e as gargalhadas das flores quando eram beijadas pelas borboletas divertidas que por lá moravam.

Fanny Costa

domingo, 22 de abril de 2018

A tua flor




Procuras o teu Ser, envolves-te na Natureza, confidencias às borboletas o teu sonho de voar. Há uma Flor ancestral onde queres pousar o teu coração, uma fragrância especial que te complete a Alma, mas os jardins percorridos revelam a ausência do teu querer. A delonga faz de ti um transeunte sem destino submerso na escuridão do esmorecimento, transpondo fronteiras. A vida não te questiona, não te condena, pede que a vivas sem pensar. O pensamento anula os sentidos do teu Eu. Mergulha no teu âmago, escuta o silêncio do teu coração. Entende os sinais dos teus passos (in)certos, percebe os códigos celestiais, nessa jornada interior. E se lacrimejares nessa demanda, recebe essas gotas que emanam dos soluços da tua Alma. Saboreia todos os sentidos, descodifica os trilhos da tua busca incessante. Jamais findes a tua caminhada, observa aquele cantinho que nunca procuraste porque deixaste falar a Razão. Talvez a Flor da tua Alma já esteja a vicejar no teu jardim, radiante e perfumada, no meio de tantas outras flores e sem o perfume do teu Sentir.  Talvez a tua Flor já te tenha sorrido e não tenhas percebido. Já é tempo de voares com as borboletas.

Fanny Costa

Flor triste



Era uma vez uma Flor triste, sem perfume, lírios desencantados e orquídeas murchas no jardim dos sentidos. Ausência de aves. Só a música do silêncio atroante e a dança amarga da solidão, passos desconcertados e atordoados. As brisas enclaustradas choram a ausência de carícias nas pétalas daquela Flor abandonada e triste. As borboletas perderam o seu rumo, voam num labirinto sombrio e não veem a saída das auroras e dos sorrisos das amadas boninas. Pobre jardim onde as lágrimas do céu borrifam a angústia daqueles seres desbotados pelas intempéries do Tempo.
Pobre Flor… tantas palavras bonitas para lhe murmurar, tantos poemas camuflados… tantas quimeras suspensas na letargia dos dias.
Fecharam-se os portões daquele vergel cansado. Árduo viver… a Flor deixara de sonhar!

Fanny Costa

Cor do Silêncio






De que cor é o teu silêncio? Onde habita a música do teu coração?

Saberás a resposta? Terás decifrado a letra da tua alma? Talvez ainda permaneças perdido no deserto da tua (e)terna demanda. Talvez os teus passos estejam estagnados numa encruzilhada e não saibas por onde caminhar. Mas insiste, não renuncies aos teus desígnios.

Senta-te no monte mais alto do teu silêncio e não queiras tudo deslindar. O Tempo é um infinito por onde os nossos olhos se abrem em meditações. Mergulha todos os sentidos na Catedral das Quimeras e como uma oração eleva as tuas mãos, toca o Céu do teu Sonho. Escutas o violino da tua deusa? Cala o ruído dentro do teu peito e percebe os acordes que voam nas brisas que tocam o teu sorriso. Sentes os seus afagos? Estremeceste?

Dizes que não… é tudo uma ilusão e vives no tormento dos malogrados poetas. Esse sonho é afinal um equívoco, como tantos outros. Todo o poeta carece de melancolia para construir castelos de versos e rimas. Vive encurralado num sentimento inóspito, mas fulgurante nas páginas dos seus sentidos.

Não procures mais, Poeta! Senta-te no horizonte e faz da procura uma tranquilidade profunda. Todos os silêncios são as palavras que não podem ser murmuradas, são trilhos mágicos onde os Anjos nos abraçam com o Sol das suas asas e nos embalam no calor do seu Amor.

Neste momento nasceu o mais belo poema que tu, Poeta, não escreveste, porque ele é feito de um primoroso silêncio.

De que cor é o teu silêncio? Já sabes?

Fanny Costa

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Murmúrio de Saudade





Todos os dias, ela pedalava lentamente por aquele jardim vestido de sorrisos. Deslumbrava-a todas aquelas aguarelas reais, todos aquelas fragrâncias celestiais e a melodia das árvores que aninhavam, nos seus braços, os pássaros da sua alma.

O som da cascata, que escorregava por entre aquela vegetação cheia de encanto, sobressaía naquele silêncio harmonioso de sentidos. Um doce murmúrio de saudade, uma solidão prazenteira irradiava por toda aquela paisagem povoada pelos seus sonhos.

Uma ligeira brisa afagava as suas lembranças de futuro, o seu paraíso secreto! Havia danças no horizonte que só ela vislumbrava, poemas tatuados nas árvores que só ela lia.
Hoje, aquela mulher ausentou-se. Hoje os pássaros não saíram dos ninhos, o silêncio daquele lugar era agora um ruído ensurdecedor de solidão cheia de sombras.

Porque trazes pássaros feridos no teu olhar? Como desaguou a tristeza pelo teu peito? Porque não regressas? Quem te cortou as asas do teu bem-querer? Não desistas, os muros da ausência serão desmoronados! Vem, mesmo descalça, sente o sussurro da terra e traz o livro da tua esperança. Quando chegares, senta-te à beira dos teus sonhos e folheia as páginas do teu presente. Interpreta atentamente as linhas do teu viver… e se quiseres, salta páginas, espreita as letras ainda proibidas, talvez possas iluminar o teu coração e este volte a sorrir.

Fanny Costa

Alquimia da Poesia




Há no coração do bosque uma fada encantada, não se sabe de onde vem, traz na voz palavras luminosas vindas de não sei de onde. Nas mãos uma rosa perfumada de memórias. Nunca ninguém tinha visto aquele Ser enigmático que deambulava com passos de algodão, as flores sorriam quando ela passava e as suas asas adejavam pelas estrofes de poemas que suspiravam afeto e atenção… os Poetas alucinados tudo vislumbram nas suas mentes, sonham, vivem na ilusão. Há voos frágeis que esperam chegar às estrofes das suas almas, há rimas que anseiam abraçar os sons dos seus corações. Chamam-nos de loucos, lunáticos… Seres estranhos aqueles poetas que se sentam nas nuvens e tudo observam… interpretam.
Serão simples utopias? Eles alimentam-se de quimeras, são alquimistas que transvertem a realidade obscura no mais belo sonho que a poesia desobscurece.

Fanny Costa