sexta-feira, 20 de abril de 2018

Murmúrio de Saudade





Todos os dias, ela pedalava lentamente por aquele jardim vestido de sorrisos. Deslumbrava-a todas aquelas aguarelas reais, todos aquelas fragrâncias celestiais e a melodia das árvores que aninhavam, nos seus braços, os pássaros da sua alma.

O som da cascata, que escorregava por entre aquela vegetação cheia de encanto, sobressaía naquele silêncio harmonioso de sentidos. Um doce murmúrio de saudade, uma solidão prazenteira irradiava por toda aquela paisagem povoada pelos seus sonhos.

Uma ligeira brisa afagava as suas lembranças de futuro, o seu paraíso secreto! Havia danças no horizonte que só ela vislumbrava, poemas tatuados nas árvores que só ela lia.
Hoje, aquela mulher ausentou-se. Hoje os pássaros não saíram dos ninhos, o silêncio daquele lugar era agora um ruído ensurdecedor de solidão cheia de sombras.

Porque trazes pássaros feridos no teu olhar? Como desaguou a tristeza pelo teu peito? Porque não regressas? Quem te cortou as asas do teu bem-querer? Não desistas, os muros da ausência serão desmoronados! Vem, mesmo descalça, sente o sussurro da terra e traz o livro da tua esperança. Quando chegares, senta-te à beira dos teus sonhos e folheia as páginas do teu presente. Interpreta atentamente as linhas do teu viver… e se quiseres, salta páginas, espreita as letras ainda proibidas, talvez possas iluminar o teu coração e este volte a sorrir.

Fanny Costa